Futebol e Cultura Popular
- Categorias Cultura Popular
- Data dezembro 9, 2022
Em novembro, iniciou-se mais um grande ritual da cultura humana: A Copa do Mundo. Desde essa data, algumas práticas tão rotineiras são alteradas naturalmente: a vestimenta, o tempo de trabalho, os tópicos de conversação, o tempo, a noção de grupo. Muitos dos brasileiros estão agora na categoria de “torcedores”, respondendo a um chamado quase irresistível a fazer parte de uma comunidade imaginada que chamamos de Brasil, composto por “brasileiros” e que respondem a uma unidade que está sendo traduzida e representada em campo, por 11 jogadores.
Antes da existência da Copa do Mundo, o futebol já era analisado como elemento integrante da cultura popular brasileira e ferramenta para definir um elemento da identidade nacional. Apesar de ser um esporte de origem inglesa e nos primeiros anos em território brasileiro era uma prática comum das elites brancas, logo foi sendo apropriado e reinventado pelos moradores periféricos de áreas urbanas.
Entre as classes populares mais baixas, o futebol era jogado de forma extremamente rústica, os “campos” eram pastagens dos equinos e muares e as bolas feitas com bexigas de boi e outros materiais disponíveis que fossem de baixo custo, exigindo dos jogadores uma boa dose de inventividade. A bola de futebol tradicional importada do Reino Unido era simplesmente inviável. O próprio termo ‘futebol de várzea’, usado para se referir a qualquer categoria de futebol amador, remete aos operários da região da Várzea do Carmo, mostrando a profunda raiz popular do esporte, quando pensado em termos locais.
O futebol mobiliza um grande número de pessoas, contribuindo para afirmação das particularidades, exercitando as diferenças culturais e criando um terreno para a prática do lúdico. Hinos, comemorações, danças, estéticas, ferramentas, calendarização de rituais, grupos de apoio e outras criações comunitárias partiram do universo do futebol, criando um vocabulário e organização de vida, mas que possuem significados que vão muito além da partida.
O futebol também entrou para o circuito das altas artes. Na abertura da Semana de 22, o escritor Menotti Del Pichia cita o jogador Friedenreich em seu discurso. Mário de Andrade dedicou um poema à primeira grande estrela do futebol brasileiro e, enquanto Oswald de Andrade escreveu alguns versos sobre futebol, a pintora Tarsila do Amaral registrou numa crônica sua experiência como torcedora em uma partida Brasil x Argentina no Parque Antártica.
Por isso, é importante lembrar que antes das polêmicas camisas da CBF, escândalos que envolvem a FIFA, de este ou aquele jogador, daquele patrocínio milionário, houve a criação de comunidades e práticas coletivas permeadas pelo esporte, com contribuições negras, indígenas e periféricas. É isso que faz o Brasil ser o país do futebol.
Tag:cultura popular, futebol
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