Congadas e Jongos do Amanhã
- Categorias Cultura Popular, Cursos
- Data agosto 18, 2022
Muitas são as formas que as comunidades encontram para organizar a vida, torná-la agregadora, com sentido, criativa e passível de ser narrada ao longo da história através da ancestralidade. Todos os agrupamentos humanos criam epistemologias e usam de recursos mais variados para traduzi-las e mantê-las.
Estamos falando de danças, cantos, ritos, textos, feitiços, receitas secretas. A luta contra a ação do tempo é, por si só, bastante desafiadora, e se torna hercúlea, quando uma cultura e seus agentes são sistematicamente perseguidos.
É essa a potência da cultura de matriz africana, que venceu não só o tempo, mas vence diariamente o colonialismo branco, para se fazer presente e viva até os dias atuais, utilizando-se das mais engenhosas façanhas para ser um dos pilares do que é ser brasileiro.
Começaremos pelas congadas, uma forma de celebração e devoção a Nossa Senhora do Rosário e outros santos católicos. Não raro no Brasil, a religiosidade africana se fixa às experiências cristãs, o que muitas vezes permitiu sua prática e existência no mundo colonial.
Apesar dos fortes componentes típicos da religiosidade europeia, a principal referência histórica das congadas é a coroação dos antigos reis africanos do Congo. A expressão “congada”origina do vem do termo “congo” e “congar”, ou seja, dançar. Durante a performance existem muitos ritmos de danças e cantos, acompanhadas de uma orquestra que também traduz essa simbiose cultural na forma dos instrumentos: são atabaques, sanfonas, reco-recos e violões. Quase sempre a congada termina na frente de uma igreja católica, mas sua história se iniciou na África.
Passemos para o Jongo, que assim como a Congada, também pode ser definido como a manutenção da epistemologia africana, manutenção de identidades e homenagem à ancestralidade. O Jongo se consolidou no Brasil por meio de escravos que trabalhavam em lavouras de café e cana-de-açúcar, especialmente na região do Vale do Paraíba. A poesia metafórica das danças do jongo criavam uma linguagem cifrada, secreta, incapaz de ser compreendida pelos senhores de engenho, criando uma dimensão protegida que marcava seu aspecto de e marginalidade na sociedade colonial.
Hoje em dia o Jongo acontece nos quintais das periferias urbanas e de algumas comunidades rurais no Sudeste, especialmente nas datas de santos católicos e divindades afro-brasileiras. Há muitos ritmos, magias e instrumentos que espalham uma mensagem de resistência.
E ainda na atualidade, é absolutamente necessário que conheçamos mais a fundo as tecnologias de permanência, aprendamos novas cosmovisões e questionemos quais serão as congadas e jongos do amanhã.