Caboclinhos de Pernambuco
- Categorias Cultura Popular, Cursos, Danças Populares Brasileiras
- Data agosto 1, 2022
Muitas das manifestações populares que compõem e enriquecem o repertório da cena cultural brasileira são fruto de uma intrincada relação entre povos europeus, ameríndios e africanos, como é o caso do Caboclinho. Estamos falando de grupos populares de representação da cultura indígena, que se apresentam principalmente nos períodos carnavalescos, em diversos territórios de Minas Gerais, Alagoas e Pernambuco.
Como a história das expressões culturais nunca é estática, o Caboclinho absorveu e ainda absorve diversas informações e referências ao longo de sua existência. Sendo uma dança que evoca as práticas originalmente realizadas em comunidades indígenas, com suas vestimentas características, música e danças, a interferência jesuíta trouxe novos elementos como a inserção da teatralidade, com dramatizações de cenas que perpassam o universo colonial.
O componente espiritual é forte da narrativa do Caboclinho, que está relacionado ao Culto da Jurema, um complexo religioso reelaborado e ressignificado a partir da coprodução afro-ameríndia. Os mestres que conduzem a brincadeira mantém práticas devocionais que engajam todos os que participam, sobretudo no período pré-carnavalesco.
Os grupos de Caboclinho passam grande parte do ano em processo de preparação para as apresentações do Carnaval, realizando a organização logística, preparação da indumentária e tudo o que envolve a produção artística. Sendo assim, é durante a festividade que podemos acessar diferentes concepções estéticas, expressões de criatividade e persistência das linguagens indígenas, que apesar da brutalidade colonial, estão ainda ativas e propõe para nós hoje, uma outra relação com a realidade.
A imagem que ilustra este artigo, retrata o Caboclinho 7 Flechas de Recife, fundado pelo mestre Zé Alfaiate, que ensaia no bairro periférico de Água Fria. Sabemos a dificuldade e vulnerabilidade das comunidades para continuarem produzindo as apresentações, e no caso deste grupo, devido às fortes chuvas que ocorreram na região de Recife, todos os materiais necessários para a saída do Caboclinho 7 Flechas foram destruídos, dentre roupas e instrumentos.
Neste mês de agosto terá início, no Instituto Brincante, o curso Danças Brasileiras ministrado por Rosane Almeida, voltado especificamente para o estudo dos ritmos e vocabulário corporal do Caboclinho de Pernambuco, como perré, guerra, baião e macumba. 50% do que for arrecadado neste curso, será enviado ao grupo 7 Flechas para sua recomposição.
Cabe também a nós, fazer a manutenção da cultura dos povos originários, honrar as experiências afro centradas e proteger os focos de resistência cultural em todo o território nacional, portanto, esse é um convite ao aprendizado, à mudança e à coletividade